Entre fios ligados à cabeça e a empurrar um carrinho de compras pelo meio das prateleiras de um hipermercado, uma mulher sujeitou-se a uma experiência inédita que foi realizada em Portugal.
Aquilo que vai vendo e escolhendo para comprar é monitorizado através de uma pequena câmara escondida nos óculos escuros que usa e as reacções do seu cérebro a tudo o que vê, ouve ou sente vão sendo registados por um receptor escondido na sua mala de mão.
Trata-se de uma experiência de neuromarketing, realizada no Porto com o objectivo de mostrar aos jornalistas como o neuropsicológico David Lewis analisa as reacções do cérebro da voluntária enquanto esta faz compras num hipermercado.
"Vamos ver o que ela gosta e o que não gosta", explica David Lewis, adiantando que "as pessoas não conseguem simplesmente verbalizar essas emoções porque estão no seu subsconsciente".
A parte do consciente do cérebro - a que consegue verbalizar as emoções - só concebe 11 pensamentos por segundo, acrescenta o cientista, e fazer compras implica "milhões de pensamentos e informações fornecidos pelos sentidos ao cérebro". Por enquanto, a experiência de neuromarketing que David Lewis veio a Portugal realizar não passa de uma demonstração mas, segundo um neuropsicólogo inglês, o processo "é provavelmente a maior revolução na pesquisa de marketing".
Para a voluntária que vestiu a touca e enviou os seus dados cerebrais para o computador, a experiência foi fácil, apesar de se ter sentido "muito pressionada". "Tentei comprar as coisas que normalmente compraria, mas senti-me muito pressionada com as pessoas a olhar para mim e os jornalistas a olhar para mim", disse.
David Lewis admite que a experiência não é "como uma ida normal às compras", mas assegura que "as pessoas rapidamente se esquecem que estão a ser observadas", até porque "a maior parte das pessoas nem olha para as outras quando está a fazer compras porque está muito concentrada".
Depois de 25 minutos a escolher produtos consoante os seus gostos, a voluntária teve que esperar 3 a 4 horas pelos resultados. É o tempo de David Lewis e o seu assistente demoram a analisar os resultados. "Os eléctrodos colocados no escalpe transmitiram muita informação para o computador. Temos de retirar o que é provocado pelo movimento do corpo e depois analisar", explica.
O que se vê são as linhas quase em ziguezague cerrado que compõem um desenho idêntico a um electroencefalograma, mas o que será possível depreender são os gostos e as reacções da senhora perante as marcas, produtos e até preços que viu. Os resultados mostraram que o que a senhora mais gostou de comprar foram sementes de flores e produtos com embalagens cor amarelas, sendo que o que menos gostou foi de deparar-se com outros carrinhos de compras no seu trajecto do hipermercado. Produções de 30 segundos.
Correctamente, David Lewis não utiliza os produtos expostos no supermercado para as suas experiências, preferindo recorrer a anúncios publicitário. Estas "produções de 30 segundos", como lhes chama, são "suficientemente longas para contar uma história e suficientementes breves para não produzirem uma quantidade de dados com que seja impossível lidar", explica, garantindo que o processo é "suficientemente consistente, válido e confiável para servir de instrumento ao estudo do cérebro".
O processo pode ser realizado através de dois tipos de tecnologia: um por imagens de ressonância magética ou por uma técnica idêntica a um electroencefalograma que, segundo o neuropsicológico, será a que "irá emergir como vencedora na corcretização dos objectivos do neuromarketing".
Segundo defende, a utilização de imagens do cérebro - o computador mostra cores mais quentes como o laranja e o vermelho nas regiões do cérebro como maior actividade, enquanto os azuis e brancos indicam uma reacção menor - pode ajudar a revelar informação que os consumidores não são capazes de articular ou que os investigadores são incapazes de obter sem interromper precisamente o processo que querem estudar.
"Utilizar imagens do cérebro não é uma panaceia da pesquiza de mercado nem vai revelar o Santo Graal do mercado de investigação, ou seja, um botão de compra no cérebroque seja só apertar para compeliras pessoas a comprar os produtos quer gostem quer não", avisa David Lewis. Mais realisticamente, acrescenta, "o neuromarketing oferece a possibilidade de usar tecnologias médicas em novas desafiantes áreas da pesquisa".
Perquisa que será, dentro de poucos anos, requisitada por todos os sectores de produção que queiram conhecer os gostos e reacções dos seus clientes e consumidores, diz, lembramdo que as compras compulsivas chegam a representar 60 a 80% das vendas das grandes superfícies.
Fonte: Ciência Hoje
Publicado por Marisa Melfe nº 25690
Sem comentários:
Enviar um comentário