Você abre o Google e faz uma pesquisa sobre dietas e, "coincidentemente", alguns instantes depois, um anúncio de shakes e remédios para emagrecimento pipocam aos montes no seu navegador ou mesmo um vídeo com esses produtos é exibido no YouTube. Certamente, todos já passamos por situações como essas.
Óbvio que não se trata de uma coincidência, tudo é fruto do monitoramento constante a que estamos submetidos a cada clique na Web.
Com a desenvolvimento da tecnologia as ferramentas de Marketing tornaram-se bastante ativas. O anúncio deixou de ter um comportamento mais passivo (como era nas primeiras épocas da Internet) para seguir as pessoas onde quer que elas estejam no mundo digital.
Os sites que são visitados pelos usuários possuem rastreadores (trackers) invisíveis, cujo objetivo é coletar detalhes sobre suas ações. Esses dados são usados posteriormente para exibição de anúncios direcionados, sob medida, no computador, smartphone ou até mesmo nas smart TVs.
Com avanços tecnológicos como, por exemplo, a Internet das Coisas, essa vigilância global dos consumidores tende a ficar cada vez mais agressiva.
A “Internet das Coisas” se refere a uma revolução tecnológica que tem como objetivo conectar os itens usados do dia a dia à rede mundial de computadores
Neste cenário quase que tudo poderá fazer parte da rede: eletrodomésticos, meios de transporte, tênis, roupas e maçanetas conectadas à Internet e a outros dispositivos, como computadores e smartphones.
As grandes empresas como Google, Amazon, Facebook dentre outras já conseguem rastrear seus usuários em todos os dispositivos, pois através de registros (logs) e identificadores virtuais (ids) é possível mapear e acompanhar uma pessoa, independente da plataforma utilizada.
Para as empresas de marketing o acompanhamento das pessoas em vários dispositivos conectados à Internet tornou-se um desafio e uma grande meta. Para empresas menores todo esse rastreamento torna-se bem mais complexo do que é para gigantes da tecnologia, pois esses já têm relação direta com seus consumidores que, diariamente, acessam seus serviços e alimentam suas bases de dados. Só para citar um dado, de acordo com a empresa de pesquisa eMarketer, somente 6% das empresas têm a capacidade de rastrear seus clientes nos diversos dispositivos de forma confiável.
Essa estratégia de rastreamento agressivo coloca sob ataque a nossa privacidade, sobretudo com o aumento dos dispositivos conectados à Internet.
O rastreamento na internet funciona envolvendo um sofisticado arsenal que engloba empresas de publicidade, analistas de dados e softwares de rastreamento que, juntos, compilam informações sobre os consumidores e seus hábitos online.
Quando visitamos um site, essas empresas usam cookies, que contém etiquetas de identificação (um código numérico único) que permitem identificar as atividades que realizamos e toda nossa movimentação na Web. Posteriormente, são formadas bases de dados com diversos perfis de consumidores que são vendidas de forma lucrativa. É possível anunciar sob medida (o Facebook usa isso muito bem), desse modo, posso fazer com que o anúncio de um microondas apareça somente para homens solteiros ou que aquela caixa de maquiagens saltem aos olhos somente de mulheres, aumentando as chances de venda.
Tudo pode ser usado a favor ou mesmo contra você, já que o seu histórico de navegação pode conter informações preciosas sobre seus problemas de saúde, filiações políticas, problemas familiares, crenças religiosas ou hábitos sexuais.
Isso torna toda essa situação assustadora, pois presenciamos uma enorme violação de privacidade.
Sem privacidade as pessoas perdem a capacidade de ler, escrever e falar livremente sem ter que se preocupar com o fato de estar sendo observado e pior, ainda, registrado em bases de dados.
Neste contexto, muitas empresas oferecem ferramentas que ajudam a apagar suas pegadas digitais deixadas enquanto navega na Web. Exemplos dessas ferramentas são: Ghostery, RedMorph, Disconnect e Privacy Badger.
Basicamente essas ferramentas funcionam de forma similar: você baixa e instala um plug-in no seu navegador. Associadas à elas existe uma lista de domínios web conhecidos (lista negra) que funcionam como rastreadores. Dessa forma, com o plug-in instalado, quando alguém se conecta a um site, a ferramenta evita que o navegador carregue qualquer elemento presente na sua lista negra (black list).
De um modo geral essas ferramentas cumprem bem o seu papel, entretanto, quando algumas coisas são bloqueadas, partes de sites podem não funcionar. Mas, como forma de evitar esse efeito colateral existe a possibilidade de personalização em que o usuário define o que deve ou não ser bloqueado.
Mas tudo tem os dois lados. É importante se concentrar e buscar meios de se garantir a privacidade, mas sem desconsiderar os anúncios que são feitos de uma forma respeitosa, leal, sem excessos. Nem 8 nem 80, deve haver um meio termo. Mas essa batalha de privacidade versus marketing ainda vai longe, afinal trata-se de uma indústria de bilhões de dólares cujo objetivo é, muitas vezes, destrinchar a sua vida.