Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o miúdo e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava em frente aos seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o rapazinho ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: “Ajuda-me a olhar!" (Eduardo Galeano)
Quantos olhos precisamos de ter para ver o invisível, o abstracto, o imaterial? Pois é, custa os olhos da cara vislumbrar o ano que passou e imprimir na memória apenas o que de bom merece restar.
Aposto que daqui a dez anos você vai olhar para 2011 e sentirá saudades. Se em 2021 estiver com trinta anos, recordará o Verão deste quase finado ano como um dos mais felizes da sua vida. Ouvirá as músicas que agora não tem paciência de escutar e sentirá, como que por encanto, cheiros e sabores pretéritos, ouvirá as vozes de amigos perdidos, saboreará beijos de bocas que já não existem mais. A matemática vale para todas as idades. Os que em 2021 tiverem 40 perceberão que foi em 2011 que se tornaram um pouco mais adultos, brincaram com os seus ainda pequenos filhos, jantaram com parentes queridos que serão, então, apenas fotos de um álbum na estante e que, principalmente, viveu para contar tudo isso.
Sei que 2011 goza de má fama. Mas nenhum um ano é perfeito. Todos são uma amálgama de bons e maus momentos. Alguns melhores para alguns, outros piores para outros. Contas feitas, ter sobrevivido acaba por ser o factor de desempate. Tantos são os que ficaram para trás. Nem que seja em respeito aos que comemoraram a entrada de 2011 mas que não poderão fazer o mesmo na saída, deveríamos sentir uma brisa de gratidão por nos ser permitido continuar a nossa jornada.
Ando a perguntar (e a perguntar-me) se vai dar para ser feliz em 2012. A simples interrogação enche os meus pares de euforia ou calafrios de medo, dependendo do espírito de cada um. O que não deixa de ser curioso. Não seria essa a questão obrigatória a colocar no momento em que vamos saltar de folha no calendário?
“2012: Dá para ser feliz?” Adoraria saber a sua resposta (caso ela seja positiva; em casos de negativa, o que não deixa de ser um direito seu, guarde para si mesmo, o mundo não precisa de ouvir mais lamentos por antecipação; a vida já é dura o suficiente para os optimistas, até porque para os pessimistas o jogo está sempre ganho: se der errado, estavam certos; se der certo, nunca será o suficiente).
“2012: Dá para ser feliz?” A pergunta tem a ver com felicidade, nada a ver com tornar-se rico, ser promovido, descobrir a fonte da beleza ou da juventude, encontrar a alma gémea ou quaisquer outros objectivos em específico. Essas coisas até podem acontecer na sua vida (e, se me permite, rezarei para que aconteçam). Mas a felicidade não é um bonequinho de plástico que vem dentro de um pacote de corn flakes. A felicidade não é um acessório caro num automóvel, um suplemento vitamínico, um brinde barato e inútil que vem com uma revista. Mais respeito com a felicidade (com a sua felicidade), ela merece.
“2012: Dá para ser feliz?” Recorro ao conto que dá início a este texto. A resposta tem a ver com o seu ponto de vista. É ver para crer. É uma questão de olhar. Lupas, óculos, lunetas, amigos e amores podem até ajudar, mas o que você (vi)verá em 2012 dependerá sempre de como vão estar o seu coração e a sua mente.
Dulce Ruano - 27249 -
Sem comentários:
Enviar um comentário