terça-feira, 15 de novembro de 2005

O Marketing político e as Presidenciais 2006

Sabendo que este artigo seria publicado entre dois actos eleitorais (autárquicas e presidenciais), considerei interessante dedicá-lo ao marketing político.

Mas afinal o que é isso do marketing político? Na verdade muitos, inclusive a generalidade dos políticos, confundem marketing político com marketing eleitoral e propaganda eleitoral.
Concretamente, o marketing político está relacionado com a formação da imagem a longo prazo. É utilizado por partidos e políticos que desejam projectar-se publicamente. Já o marketing eleitoral funciona a curto prazo e compreende o esforço de movimentação da máquina partidária e do candidato para a sua eleição. É composto, basicamente, por campanhas de propaganda criadas numa dada conjuntura, para eleger um candidato.

Sendo a propaganda eleitoral a face visível do marketing político, não admira que para muito eleitores tudo se resuma a ela. Mais grave ainda é que alguns políticos pensem de igual modo, sinal claro da sua atitude face às pessoas que os elegeram.

No contexto da política, comunicar é essencial, tornando-se num vício, quase uma obsessão. No entanto, é necessário ter consciência de que a comunicação em doses adequadas é um medicamento, mas, em doses elevadas, pode ser um veneno fatal. Que o digam Pedro Santana Lopes ou Avelino Ferreira Torres. É claro que é necessário comunicar, mas pior do que não fazer propaganda é fazê-la em demasia, pois tomar da palavra a todo momento banaliza a imagem do político e as suas propostas. É preciso saber escolher o momento certo e falar com muita moderação. O segredo de uma boa comunicação está nos detalhes, na coerência do conteúdo e na moderação aplicada pelo comunicador.

Parece-me que o Bloco de Esquerda pode constituir um exemplo da aplicação de marketing político. Independentemente de se concordar ou discordar da sua ideologia e posições, soube criar uma imagem coerente que tem vindo a desenvolver proveitosamente, a julgar pelos resultados, ferida apenas por alguma falta de moderação em determinadas intervenções.
Num mercado competitivo, composto por dois agentes básicos: candidato e eleitores, é fundamental compreender que o candidato deseja informação para criar programas políticos moldados aos anseios dos eleitores, mas principalmente o seu voto para chegar ao poder. Por seu lado, o eleitor deseja do candidato uma boa comunicação e o cumprimento das promessas eleitorais.

Os estudos realizados sobre a motivação dos eleitores indicam que o voto é influenciado por três componentes: (1) a ideológica, inerente aos ideais e convicções expressas pelo partido; (2) a política, governada pela relação ou afinidade pessoal entre o candidato e o eleitor; e (3) a eleitoral, que resulta da percepção formada pelo eleitor durante a campanha. Ao marketing político compete pois uma intervenção global, abrangendo as três componentes, enquanto a propaganda se concentra na eleitoral.

A importância da componente política foi destacada nas última autárquicas por Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Fátima Felgueira, que demonstraram como a relação pessoal com os eleitores pode ser preponderante.

Olhando agora para as presidenciais, o próximo acto eleitoral caracteriza-se por uma elevada personalização das candidaturas em torno da imagem individual do candidato, e sem menosprezar a influência ideológica, acredito que, mais uma vez, à semelhança do exemplo autárquico, a componente política será, também ela, determinante na eleição do próximo Presidente da República. O candidato que melhor cultivar a relação de afinidade com os eleitores, será o vendedor. Talvez por isso haja candidatos que já falam em “campanha afectiva, quase porta a porta”.

Artigo Diário XXI

5 comentários:

Anónimo disse...

Só por curiosidade, sabiam que foi Edson Athaíde o "responsável" pelas vitórias de António Guterres nas legislativas?

Anónimo disse...

Sei que ele foi o responsável pela campanha, agora quanto à vitória, essa é outra "história".

As vitórias "não se contam pelos dedos", são bem mais complexas.

Um abraço.

Anónimo disse...

Fica registada a correcção;)

Cumprimentos

Anónimo disse...

Não poderá a utilização findar no demagogismo e populismo? Pessoalmente acho que o Marketing politico não devia poder ter acesso à totalidade do marketing-mix penso que o P de produto lhe deveria ser vedado.

Ñ se esqueçam que nem toda a gente vota em conciência, há quem vote por tradição, por mera sugestão. O voto de alguém manipulável vale tanto como o do eleitor que pondera o seu voto.Não será perigoso quando se apela ao sentimento e não á razão?!Há alturas que penso que o candidato que vai ganhar é o que falar menos, tipo akele famoso debate em que o Jerónimo de Sousa ganhou o debate, akele em k ficou afónico e realmente foi o disse menos asneiras.

Parabens pelo artigo e pelas questões que levantou.

Anónimo disse...

Parabens pelo artigo principalmente pela pertinência das questões levantadas.

Gostava de deixar a minha opinião de que devia ser vedado ao marketing politico o P de produto na elaboração do marketing-mix. Senão temos politicos a apelar à emoção e 0 à razão, não se devia discutir idéias. Não deveria ganhar o candidato cujo projecto satisfaz o maior numero de pessoas?pelo caminhar da coisa o vencedor é o candidato que conseguir reunir à sua volta uma maior simpatia, por isso vemos candidatos que se apresentam com 7bandeiras de Portugal, com um discurso que nd de novo diz, com o apoio incondicional de uma juventude muitas vezes paga. Se o Marketing Politico modificar o P de produto não estaremos a entrar no demagogismo e populismo, em que o interessa não é minimamente as propostas politicas.

Não se esqueçam que o voto das pessoas que votam por tradição, por afectividade, por sugestão, por meditação, valem o msm, todas valem o ,msm. Por isso é bom que este marketing seja feito com grandes doses de ética.

Ps: Axo k o Santana Lopes e o Ferreira Lops ñ perderam por excesso de comunicação mas sim porke ñ tinham nada a comunicar :)