A empresa escolheu uma pessoa com bastante notoriedade, o apresentador da RTP Jorge Gabriel, para dar cara à campanha. Uma pessoa com notoriedade e de confiança para os telespectadores, como convém (não chegaram já a dizer que ele é o neto que todas as avós gostariam de ter?).
Para além da cara famosa, o Jumbo (ou a agência de publicidade responsável) deu um formato diferente à campanha, que se apresenta de forma algo interactiva. Por um lado, os spots televisivos são gravados “ao vivo”, em hipermercados reais onde clientes reais circulam e compram. E dado o aspecto das imagens e o serem “ao vivo”, até dá impressão que é uma transmissão directa, que o Jorge Gabriel está naquele preciso momento no hipermercado a falar com as pessoas, embora de facto não esteja. É só impressão.
Por outro lado, a interactividade também se traduz no desafio que o Jumbo lança aos seus clientes – apresenta-se o preço promocional de um ou mais produtos com um determinado prazo de validade e desafiam-se os telespectadores a durante esse prazo apresentarem talões de compra desses produtos com preços mais baixos, seja de que loja for. Conseguindo apresentar um preço mais baixo, o telespectador seria generosamente recompensado.
No fundo, uma campanha inovadora, chamativa e, parece-me, potencialmente eficaz. Para quem ensina e investiga a ciência do Marketing estas características só podem ser motivo de satisfação.
Tudo estaria portanto, bem, não fora, no entanto, o final escolhido para os spots da campanha. Talvez por saberem que esta tem qualidades, os autores entenderam que ela é “a” campanha, que é completamente diferente das outras. E que ao contrário de todas as outras, não pretende enganar ninguém. Daí o slogan “Isto é verdade, não é só publicidade”.
Ora este slogan é inaceitável. Estes senhores estão a dizer-nos que a publicidade não é verdade. O que é o mesmo que dizer que publicitar é enganar. E que toda a gente sabe disso e o aceita, deixando-se enganar.
Mas eu sei que não é assim e não aceitaria se o fosse. A publicidade está ao serviço do marketing das empresas, e o marketing começa e acaba com os desejos e necessidades do consumidor. Não se vai ao encontro dos desejos e necessidades dos consumidores enganando-os. Os autores desta campanha devem achar que os consumidores são tolos, para não dizer pior. Como se as pessoas pudessem ser enganadas sistematicamente pela publicidade, sem nunca perceberem o engano e sem nunca reagirem a esse engano. Se eu me sinto enganado numa loja procuro outra.
Tal como em todas as profissões e actividades, também na publicidade trabalham pessoas sérias e honestas bem como pessoas ardilosas, enganadoras e sem escrúpulos. No Marketing acreditamos que os consumidores sabem distinguir as acções de umas e de outras pessoas, e que portanto “o crime não compensa”.
Também não deverá compensar esta atitude de “só nós é que somos sérios”. A afirmação é tão grave que, coincidência ou não, o Jorge Gabriel deixou entretanto de a dizer, sendo substituído por um funcionário. Parece aliás que a escolha terá sido fruto de um arroubo criativo mal avaliado. Os autores nem se terão apercebido que ao dizerem que esta campanha é diferente de todas as outras porque é séria, estão implicitamente a dizer que qualquer campanha anterior do Jumbo era “apenas publicidade” tal como eles erradamente a querem definir. E eu não acredito que o Jumbo nos tenha enganado ao longo de todos estes anos. Simplesmente se enganou agora.
“Com o slogan «Isto é verdade, não é só publicidade», estes senhores estão a dizer-nos que a publicidade não é verdade. O que é o mesmo que dizer que publicitar é enganar. E que toda a gente sabe disso e o aceita, deixando-se enganar”
Artigo no Diário XXI
terça-feira, 8 de novembro de 2005
Isto é verdade, não é só publicidade?
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2 comentários:
Desde já os meus parabéns pelo artigo!
Confesso k pensei 2vezes se devia comentar este post. Pois o professor poderia pensar k esta malta nova é do contra, k estão sempre dispostos a rebater as suas idéias. Depois pensei melhor e lembrei-me k a competência a adquirir este mês é a postura socrática e tentar sempre ver o revés da medalha.
Será assim uma coisa tão aberrante, pensar k as pessoas desenvolveram imunidades contra a pub e k realmente pensam k grande parte da pub é IMPINGIR e pc mais, exceptuando qd é uma expressão de arte mais preocupada em ganhar prémio do k ajudar o cliente.
Poderá o professor rebater, ah pois e tal e as fontes?Mas contra rebato coiso e tal as fontes ñ é só dominio do empirico mas há estudos. Recordo-me de um realizado em k foram seleccionadas entre 30 a 50 profissões e os profissionais da pub classificaram num honroso segundo lugar, mas a contar do fim, à frente dos vendedores de automóveis mas inclusivé atrás dos vendedores de seguros.
Claro cm em td há bons e maus, ñ estou a generalizar mas sim a tipificar.Ñ será msm esta idéia k a publicidade fez dela própria com as receitas fáceis e c os sonhos k nos venderam durante anos a fio.
Claro k tb à niveis de mentira deixo um exemplo pr pensar, uma marca pilhas lançou uma campanha "nenhuma marca dura mais k a nossa", realmente aki ñ há mentira, mas tb ñ dizem k dura mais k as outras.Talvez este seja a verdade a k estamos habituados a receber da Pub, letras pequenas, idéias trabalhadas, meias-verdades.
Bem mas ñ se pense k kero crucificar a pub, só deixo k a pergunta, a frase contorvesa do Jumbo ñ estará precedida de estudo, k possivelmente deu a seguinte informação ao Jumbo, a publicidade ñ tem credibilidade junto do consumidor final e eles apenas procuram usar e tirar proveitos da informação.
Se os publicitários sentem a sua honra ferida de morte, talvez devam olhar pr dentro e mudar algo. Qt à eficácia do anuncio estaremos aki pr ver. Penso k a pub do Jumbo por mt do k o professor disse e tb por esta frase final vai conseguir concretizar os objectivos comunicacionais e de marketing da campanha.
Professor novamente esclareço k ñ pretendo ser provocatório, concordo em grande medida c o k escreve, possivelmente por mt do k sei me ter sido ensinado tb por si(um pc de graxa pr suavizar :))Cosidere este comentário cm uma questão, uma questão longa.
Ps: Agora esta sim uma provocação, relativamente ao fechar portas,mencionado numa aula.
"Se queres gozar de uma boa reputacão preocupate em ser o que aparentas ser e a exprimir o k sentes." Socrates
"Eu a pensar k conhecia estradas, veio a vida e mostrou-me k só conhecia veredas" Sérgio Godinho
Às vezes temos relutância em fechar portas, mas qd uma se fecha se tivermos kalidade outra se abre, e qd olharmos pr trás mts dessas portas eram apenas postigos"
Pr acabar a favorita do Vidigueira, qd ñ nos afastamos de certas pessoas podemos estar a fazer pactos c o diabo e qd se fazem pactos c o diabo é necessário saber dançar entre nas chamas. Fica a então a provocação de k por vezes se deixarmos mts portas abertas pode fazer corrente de ar :)
Não será ir de encontro ao que as pessoas pensam? Estas sim podem estar erradas! Á que mudar ou tentar fazer com que as pessoas pensem de maneira diferente no que respeita á publicidade.
Nunca deixando de criticar o anúncio, pois este podia ser um veículo para prestar um pouco de "educação publicitária" a quem não é especialista.
Continuem ALERTA!!!
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