terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Operação Coração da Cidade: Take Spin-offs Digitais

No início de um nova missiva nesta coluna de opinião, direcciono a minha preocupação para os perfis que desejamos para os futuros cascos históricos urbanos. "Ora essa?" irão questionar de forma interrogativa os mais conformistas com este estado de cousas (é mesmo assim à antiga portuguesa). O problema é que eu sou mesmo bairrista, não gosto de ver morrer o coração da minha cidade (Covilhã) e ainda por cima eu próprio vivo no casco histórico covilhanense.

Até quando as entidades responsáveis eleitas, em termos nacionais e locais, vão deixar que as fachadas dos edifícios históricos se degradem, sem qualquer tipo de intervenção?
Não esqueçamos que estes edifícios servem de guarida a famílias com menos posses, ou a agregados familiares reduzidos a um único elemento (viúva ou viúvo) com problemas de locomoção, ou com problemas de saúde, cuja assistência social ou médica só encontram na cidade nova.

Os sobreviventes desta odisseia urbana continuam a fazer a sua vida, diariamente, numa zona histórica que conta apenas com os comerciantes mais resistentes ou com os mais entrincheirados, como se os limites da antiga muralha ou da barbacã fossem trincheiras incontornáveis destinadas ao desaparecimento progressivo.A renovação dos passeios não é suficiente para esconder as casas de xuto que vão proliferando no casco histórico urbano.
É necessário muito mais!

Se a estratégia passa por deixar arruinar e degradar os edifícios históricos ou com fachadas características e, posteriormente, lançar mão de conceitos urbanísticos direccionados a estudantes, ou mesmo a habitantes com elevado poder económico que considerem chique voltar ao casco histórico dentro dos próximos anos, na condição de virem a poder habitar condomínios fechados, então está tudo muito bem, obrigado!

Está visto noutras cidades, até mesmo na capital, que não é uma política pública de desenvolvimento económico e social que possa ser considerada eficiente, pelo menos para os habitantes dos ditos cascos históricos.Existem exemplos no mundo de completa renovação de cascos históricos. Como? Através da fixação progressiva de casais (são necessários incentivos, como por exemplo, a atribuição de reduções, ao nível do Imposto Municipal sobre Imóveis); da dinamização de redes de assistência e cuidado social e, sobretudo, mediante a criação de redes digitais de novas actividades industriais (podem estar relacionadas com a produção de software ou de conteúdos) e comerciais, as quais devem ser spin-offs digitais a incubar dentro da esfera de actuação da Universidade ou em parques tecnológicos nas quais esta instituição de ensino participa, vulgo o PARKURBIS.

Ao efectuar-se a travessia do Atlântico, no Nordeste Brasileiro, um exemplo de boas práticas pode ser estudado no Porto Digital. Outro benchmark, pode ser traçado, a partir do caso de São Paulo, onde as zonas de prostituição e de tráfico de droga da Cracolândia passam agora por uma fase de renovação através da implementação de projectos digitais, os quais debelam estes cancros sociais e geram auto-responsabilidade e emprego para os jovens.Na cidade serrana, de que sou natural, e na qual habito e trabalho, se for criada uma rede de banda larga, que bem pode ser wireless, então poderá surgir, por exemplo, uma rede geminada entre o referido Porto Digital (Recife, Brasil) e uma futura Fábrica Digital (Covilhã, Portugal).

Nesta esperança atenta, gostarei de ver nascer no centro histórico um conglomerado de novas unidades empresariais ligadas aos sectores tradicionais e aos sectores de base tecnológica, as quais irão certamente revitalizar o centro histórico e contribuir para a fixação de jovens recursos humanos qualificados que irão repovoar as encostas da serra.Em breve poderemos ter um novo conceito de bem-estar social alargado tanto às camadas populacionais mais idosas, naturalmente, mais condicionadas, como às camadas mais jovens que terão gosto em afirmar a sua identidade serrana, habitando e trabalhando no CORAÇÃO DA CIDADE!

João Leitão

jleitao@ubi.pt

Publicado no Diário XXI, em 06/12/2005

4 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez os nossos docentes ñ nos param de supreender, além de revelarem muita qualidade a abragência do seu conhecimento é admirável.

Professor concordo consigo, também sou um nostálgico urbano, não troco um passeio na baixa da cidade(no nosso caso na alta)por um passeio consumista nas grandes superficies. É uma pena que as pessoas adiram em massa a um centro de consumo e não adiram ao centro.

Note-se que o poder local tem tido um papel confuso nesta questão. Por um lado tem renovado as calçadas e efectua alguma obras, apoiado o melhoria das instalações de "clubes" que dinamizam em muito a população (Académico dos Penedos Altos, Santo António,ADE,...),aparecem jardins, mas por outro lado talvez estrangulada por dividas, tem se expandido de forma desgovernada.

Constroí-se na Covilhã como não se constroi em mais nenhuma cidade do pais, é a Camarâ mais eficiente na aprovação de alvarás. Temos o exemplo da Anil, só se pensou em construir, tendo cm acesso unico umaestrada de duas vias que atrofia o trânsito até ao impensável.Onde estará o plano de pormenor???

Aproveitem a promoção de estacionamento gratuita por duas nos parques do centro, pr fazerem as compras de NAtal e dinamizarem a história da cidade e entretanto esperamos que ganhem eco as idéias do professor Leitão, idéias cm a da rede geminada,ou a do centro histórico com um conglomerado de novas unidades empresariais ligadas aos sectores tradicionais e aos sectores de base tecnológica.

Anónimo disse...

Realmente é pena que as baixas dos centros urbanos não nos consigam reconquistar! Mas não terá mais lógica o comércio fora da "metrópole"?
Os pequenos retalhistas não terão o dever de se adequar às alterações dos hébitos de consuno? Não se pode negar o futuro, meus caros...

Anónimo disse...

O futuro não será o que fazemos dele? Não será um desperdicio de recursos expandir para a perferia quando os centros urbanos ao abandono?

Anónimo disse...

É interessante constatar como um post pode ter leituras tão diferentes.

Mas, no caso em questão, não se trata de "baixa" trata-se mesmo da parte alta da cidade, a qual foi, historicamente, sacrificada, por exemplo, para fornecer matéria-prima, vulgo, pedra, que foi utilizada na construção de fábricas.

Subsistiu, todavia, aquilo a que chamo casco histórico, onde estão as raízes da cidade. Meus caros sem raízes... não há frutos! Não será exigir demais aos pequenos retalhistas? O dever de...? Infelizmente, faz-se com frequência tábua rasa do passado para melhor justificar os erros do presente e do futuro!

E um dia... quando a admirável Cidade Nova for também ela Cidade Velha... entrega-se num "lar" ao abandono e depois… só depois enterra-se, convenientemente!

Um Feliz Natal