sábado, 10 de dezembro de 2005

O Marketing da Leitura – A história de alguém que não gostava de ler (Cap. 1)

Agora que a gigantesca porta branca fechava atrás de si, sabia que terminara mais um dia de trabalho. Cá fora o calor era abrasador, não que não estivesse habituado, não era nada disso, aliás estava até bastante adaptado a temperaturas elevadas, afinal um clima bastante quente tinha marcado a sua juventude. Mas ali o calor era diferente, mais “claustrofóbico”, sentia-se aprisionado, com dificuldade em respirar.

Desceu a meia dúzia de degraus que o separavam do passeio que ladeava a estrada e percorreu os escassos metros que o separavam do carro. Caminhava pensado que era Sexta-feira, mas, ao contrário de outras semanas, aquele não seria o dia em que trocaria o calor pelo calor.

Colocou a mão na porta do carro e apesar da voluntariosa sombra que o tinha protegido parte do dia, sentiu uma onda de calor atingi-lo com violência. Na verdade sabia que parte daquela onda de calor brotava de dentro de si, da saudade de outra forma de calor, o calor da família. Semi-conscientemente sentou-se ao volante, fez inversão de marcha e seguiu em direcção a casa. A sua mente clamava por uma vaga de frio polar capaz de apagar aquele fogo que o consumia.

O carro rodava sobre os paralelos negros da calçada que nunca lhe tinham parecido tão regulares como naquela tarde. Subitamente foi acordado por uma bola de fogo vermelha que irrompeu perante os seus olhos. Travou bruscamente, enquanto via o semáforo dar luz carta branca às pessoas que aguardavam junto à passadeira. Distraidamente deixou olhar fugir em direcção ao horizonte rumo a casa, mas a viagem em direcção ao lar foi curta, interrompida por uma robusta mancha verde que se interpôs no seu caminho.

O jardim, não tinha pensado nele. Agora achava que a paragem no semáforo tinha sido providencial, talvez mesmo um sinal. Riu-se, logo ele, o homem das somas e multiplicações a imaginar-se tocado pelo destino, alvo de sinais inexplicáveis.

Era cansaço, só podia ser isso, que mais poderia ser?

1 comentário:

Miss D disse...

Esta história continua?