Para o director dos canais temáticos da SIC, crise existe em África. Sem papas na língua, diz que não compreende um país em que os jovens não andam de scooter mas andam de Smart. Entrevista de José Fialho Gouveia.
Consegue posicionar-se politicamente?
Sou um libertário no sentido americano do termo. Entendo que as pessoas não devem chatear-se umas às outras. Se eu não quero que o vizinho me vá bater à porta não posso pôr a música muito alta. Acho que tenho um lado conservador, sou completamente pró-capitalismo e, para irritar os outros, sou anti-esquerda.
Também é libertário nos costumes?
Não me importo que as pessoas fumem haxixe desde que não me chateiem. Por mim até podiam andar nuas.
Então, de certa forma, encaixa-se em algumas posições da esquerda.
A grande diferença entre mim e a esquerda é que a esquerda tem um objectivo e eu não. Eu não quero nem deixo de querer que os homossexuais se casem. Se quiserem, podem casar à vontade, desde que não encham a entrada da minha casa de grãos de arroz para eu não tropeçar e cair. Não tenho como objectivo de vida o desejo que as outras pessoas sejam felizes. Tenho como objectivo não fazer nada que o impeça.
Sendo anti-esquerda é de direita?
Pois, inevitavelmente um gajo anti-esquerda é de direita, por isso sou obrigado a dizer que sim, embora não pense em mim dessa forma. Penso em mim sendo anti-esquerda e não como sendo de direita. Mas claro que me identifico mais com as posições da chamada direita.
O que odeia na esquerda?
A infantilidade de acharem que tudo no mundo - desde a Amazónia até ao casamento dos homossexuais, passando pela programação das televisões - devia ser . Para a esquerda tudo no mundo devia ser . Esta noção que a esquerda tem de que pode controlar a existência através de legislação e de manifestações é uma infantilidade que me irrita. E depois acho a esquerda muito barulhenta e pouco inteligente na forma como se expressa. E a falta de inteligência perturba-me.
Já votou à esquerda?
Já votei no PS. É esquerda?
Este PS é de esquerda?
Vou tentar responder no fim. Só pode haver democracias com partidos. Irrita-me muito a má fama que a política tem em Portugal e acho que isso é muito culpa da esquerda - tanto que nem há partidos de direita em Portugal e não, o CDS não é de direita. Já votei PS, mas não me lembro bem quando. Tenho uma noção útil do voto, embora ache que não seria capaz de votar no BE - mas isso é uma mania minha. Sei que os partidos não são associações de malfeitores. É óbvio que há pessoas que aproveitam o facto de estarem na política para melhorarem a vida de formas menos ortodoxas, mas isso acontece em todo o lado, até nas filarmónicas. Se este PS é de esquerda? Acho que é do centrão.
Diz que é pró-capitalismo. Como vê esta crise alegadamente originada pelas más práticas do liberalismo?
Em primeiro lugar, não tenho a certeza de que vivemos em crise. Tenho mesmo muita dificuldade em acreditar nisso - refiro-me a Portugal e à Europa. Crise vive-se em África, onde as pessoas são pobres de facto. Crise é as pessoas meterem-se em barcos na Somália para chegarem até Itália. Para mim, um gajo não poder ir a Nova Iorque tantas vezes quantas gostaria não é crise.
O problema do desempregado que estiver a ler esta entrevista não deve ser reduzir o número de viagens a Nova Iorque.
Obviamente que depende do desempregado de que estamos a falar. Sem querer ser chocante - embora me esteja a cagar -, estou preparado para estar desempregado. Isto quer dizer que tenho dinheiro de parte; quer dizer que tenho uma casa boa, mas abaixo das minhas posses; quer dizer que o meu filho anda numa escola pública, quando poderia andar no Saint Julian s, porque tenho dinheiro para isso. Estou preparado para estar desempregado. Se o desempregado que estiver a ler esta entrevista estiver irritado porque o problema dele não é poder ir a Nova Iorque, na minha opinião ele quer ter um emprego para poder ir a Nova Iorque e comprar um iPad. Não consigo conceber um país onde as pessoas não andam de scooter e andam todas de Smart. Qualquer parque de estacionamento de uma universidade está cheio de carros de estudantes. Este país está em crise? É demagógico o que estou a dizer? Pode ser considerado demagógico, mas não acho que seja. Por que é que em Portugal não há scooters? Por que é que os putos não vão de scooter para o Bairro Alto beber copos e vão de Smart? Já as pessoas que vivem na Covilhã e foram para o desemprego porque a fábrica fechou - isto para caricaturar outro tipo de desempregado - têm mecanismos do Estado à sua disposição, como o subsídio de desemprego e o rendimento mínimo. Embora este não seja um discurso politicamente correcto, estou a tentar pôr as coisas em perspectiva. É evidente que em todas as sociedades há situações dramáticas. Mesmo que Portugal estivesse a crescer 18% ao ano haveria pessoas no desemprego. Mas creio que as pessoas vivem melhor do que aquilo que julgam, porque em Portugal vigora a política do não conta .
O que é isso da política do não conta ?
Há um gajo que diz: Eh pá, estou desempregado, isto está péssimo . Mas tu tens uma casa no Algarve e vais para lá todos os fins-de-semana no Verão . Eh pá, mas isso não conta, um gajo tem de espairecer . Portugal é o país da Europa com maior taxa de segunda habitação. Portugal é o país da Europa onde os estudantes têm mais computadores portáteis. Mas isso não conta. Os festivais de música estão sempre cheios, mas isso também não conta. E depois vemos reportagens - e isso dá-me vontade de rir - sobre pessoas que estão em situação dramática, mas têm empregada doméstica. Se eu ficasse desempregado, uma das primeiras coisas que faria seria despedir a minha e passava eu a lavar a roupa. Não deve ser muito difícil. E os telemóveis também não contam.
Como vê a geração à rasca dos Deolinda?
Não acredito em Deus, mas acho uma ironia do caraças terem nome de empregada doméstica. Todas as gerações tiveram os seus desafios, mas antes não havia Facebook nem computadores. Os jovens agora podem ir a Nova Iorque à vontade porque se tiverem uma oferta de emprego toca-lhes o telemóvel. Eu estive desempregado com 23 anos e passava as tardes em casa à espera que o telefone tocasse porque só havia telefone fixo. Se calhar é melhor estar desempregado agora. E não estou a ser irónico. Hoje o mundo é muito mais pequeno. Os jovens podem ir trabalhar para o estrangeiro ou trabalhar em casa. Na minha altura não. E muitos destes jovens são filhos de pais que ganham bem e vão herdar uma casa. É preciso ver as coisas em perspectiva, mas reconheço que não gostava de ser jovem hoje porque sei que é quase impossível arranjar emprego.
Não estando certo de que há crise, como vê as políticas de austeridade?
Sei que a democracia representativa é um dos maiores achievements da humanidade e um gajo tem de acreditar que os gajos sabem o que estão a fazer.
Simpatiza com Sócrates e com Cavaco?
Se ia jantar fora com eles?
Se acha que estão bem nos seus papéis.
Acho que Portugal tem exactamente o que merece.
jose.fialho@sol.pt
Tags: Crise, Entrevistas Imprevistas, Media, Sociedade
domingo, 13 de março de 2011
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1 comentário:
Uma entrevista ridícula de uma pessoa ridícula...
Já agora o que se passa em muitas regiões de África não é uma crise é miséria..
Não percebo tb a publicação deste post..
Um abraço
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