quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"Isn"t it ironic..."

Será que o comum dos mortais conhece a fundo o trabalho dos profissionais de marketing, o funcionamento do sistema mediático e a "transformação" de que a realidade é alvo quando passa a realidade mediada? Não me parece.

O recente Ciclo de Conferências do Cannes Lions Review 2010 - que mostrou os trabalhos vencedores deste Festival de Publicidade e Comunicação -, e o debate sobre a actualidade do sector, recordou-me o estudo internacional "GfK Trust Index". Desenvolvido pela GfK Custom Research em parceria com o "The Wall Street Journal", avalia a reputação das profissões, através da medição dos níveis de confiança que os cidadãos têm em 20 grupos profissionais.

Pensemos em Portugal. Bombeiro (93%), professor (92%), carteiro (89%) e médico (88%) são as profissões mais bem classificadas, não obstante as notícias sobre os escassos meios para apagar os incêndios, as faltas de livros e os complexos sistemas de avaliação escolar, a demora na entrega da correspondência, as listas de espera nos hospitais, e tantos outros exemplos.

Os políticos (17%), advogados (39%), banqueiros (39%) e gestores de grandes empresas (42%) registam os mais baixos índices de confiança.

Aos piores do ranking estão associadas ideias de descrédito, incumprimento, desresponsabilização...

Mas, afinal, e passando para o campo da Comunicação, o que têm os mal cotados em comum? Ocorrem-me três questões imediatas: são assessorados por profissionais de marketing, são "consumidores" de consultoria em comunicação; são os mais procurados pelos media.

Vejamos o caso dos advogados. A sua presença nos meios de comunicação social é cada vez mais frequente; as publicações de economia conferem um espaço crescente a esta actividade e aos seus protagonistas; surgem edições especializadas em advocacia; há uma efectiva valorização da avaliação jurídica pelos media sobre as mais díspares matérias e factos; os escritórios de maior dimensão contam já com responsáveis "in house" e contratam consultores de comunicação.

Chegamos, então, ao ponto da causa "versus" consequência. Ou seja, se os profissionais mais mal classificados consomem Marketing e Consultoria de Comunicação, por que têm elevado mediatismo? Ou têm elevado mediatismo porque consomem Marketing e Consultoria de Comunicação?

Afinal, como é que as pessoas formam o seu juízo? Têm amigos políticos? Já foram socorridas por bombeiros? Privam com gestores de grandes empresas? Tratam o carteiro pelo nome? Almoçam com banqueiros?

Não. Não almoçam, não conhecem, nem nunca estiveram com... As percepções e os juízos de valor são feitos através da informação pública e publicada.

E quem é responsável pela sua produção? Simples: os profissionais de marketing e os jornalistas.

E, afinal, que nota receberam? Ficaram, sensivelmente, a meio do ranking, com os jornalistas e os marketeers a registarem índices de credibilidade de 66% e de 64%, respectivamente. Sublinhe-se: Portugal é o país onde mais se confia nos profissionais de marketing. Nada, nada mal...

Ocorre-me o refrão da música de Alanis Morissette: "Isn´t it ironic... don´t you think?"

Artigo de Opinião por Catarina Vasconcelos, Directora-geral LPM Comunicação

Fonte: Jornal de Negócios


André Mota dos Santos 22110

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