A relação entre o corante de caramelo utilizado na Coca-Cola e na Pepsi e casos de cancro em humanos não está provada, mas os resultados em animais foram suficientes para as marcas alterarem as suas receitas e reduzirem a quantidade de 4-metilimidazol. Caso contrário, de acordo com a legislação da Califórnia, nos Estados Unidos, as embalagens à venda neste estado da costa oeste teriam de passar a dizer ao consumidor que as bebidas contêm uma “substância potencialmente cancerígena”.
As conclusões de um estudo pedido pelo Center for Science in the Public Interest (CSPI) – uma associação de defesa do consumidor norte-americana com sede em Washington –, indicam que as latas de Pepsi contêm entre 145 a 153 microgramas de 4-metilimidazol (4-MI) e que as de Coca-Cola têm entre 142 e 146, tanto nas versões normais como nas “light”.
E, segundo a lei californiana, qualquer produto com mais de 29 microgramas desta substância, conhecida como corante de caramelo, deve ter um rótulo que alerte para os perigos oncológicos. Com base no modelo de risco adoptado neste estado, o CSPI estima que o corante caramelo encontrado seja responsável por cerca de 15.000 casos de cancro na população norte-americana.
O CSPI já fez uma petição para que a substância seja proibida em todo o país e enviou o documento à Food and Drug Administration (agência norte-americana que regula os alimentos e medicamentos). Pede também que o 4-metilimidazol não possa ser chamado apenas de “corante de caramelo” e que passe a ser designado por “corante de caramelo quimicamente modificado” ou “corante de caramelo obtido por processo de sulfito de amónia”.
Por agora, as marcas optaram por alterar voluntariamente a receita para os níveis legalmente permitidos na Califórnia. No futuro ponderam reduzir a quantidade de corante em todos os estados daquele país, para facilitar a produção das bebidas. O mercado europeu para já não terá alterações.
O problema do corante de caramelo destas bebidas é que, ao contrário do que se faz em casa, em que se mistura água e açúcar numa frigideira, aqui a reacção do açúcar é obtida com o auxílio de amónia e sulfitos, sujeitos a altas pressões e temperaturas para se obter o metilimidazol – associado a tumores do pulmão, fígado, tiróide e leucemia em estudos conduzidos em ratinhos, mas que ainda não foram comprovados em humanos.
“Apesar de acreditarmos que não há nenhum risco de saúde pública que justifique tal mudança, pedimos aos nossos fornecedores de caramelo que dêem já este passo para que os nossos produtos não sejam sujeitos a um alerta científico injustificado”, explicou Diana Garza-Ciarlante, representante da Coca-Cola, citada pelas agências internacionais. Também a Associação de Bebidas Americana, que representa a indústria do sector, salientou que os estudos apenas mostram alguns efeitos cancerígenos em animais, mas que em humanos não há qualquer evidência científica.
Já a Food and Drug Administration assegurou que está a analisar o assunto mas, para acalmar os consumidores, exemplificou que para ingerir as quantidades potencialmente cancerígenas seria necessário beber diariamente 1000 latas de Coca-Cola ou Pepsi para obter as quantidades de 4-metilimidazol a que os ratinhos foram expostos em laboratório.
Uma posição que não satisfaz o director-executivo do CSPI. “A Coca-Cola e a Pepsi, com a aquiescência da FDA, estão a expor sem necessidade milhões de norte-americanos a um químico que provoca cancro”, contrapôs Michael Jacobson num comunicado, no qual apelida o 4-metilimidazol de “cosmética que não acrescenta sabor”.
Fonte: Jornal Público
Sofia Rocha, 27602
1 comentário:
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