terça-feira, 11 de abril de 2006

Desafios para as PMEs do sector turístico

DESTAQUE: “As empresas que operam neste sector, necessitam cada vez mais de colaborar entre si para defender a sua posição no mercado. A concorrência crescente por parte das grandes empresas obriga a uma maior integração”


Nas últimas décadas, a indústria do turismo tem vindo a tornar-se num sector de actividade com importância preponderante na economia dos países. O seu desenvolvimento deve-se sobretudo ao facto de as pessoas disporem de mais rendimentos disponíveis, uma esperança de vida dilatada e maior qualidade de vida e também devido às melhorias nos meios de comunicação e de transporte. A Europa é e vai continuar a ser o principal destino turístico e também o principal emissor de turismo. Em Portugal, este é um sector que em 2003, segundo o Banco de Portugal, representou em actividades directas cerca de cinco a seis por cento do Produto Interno Bruto, gerando receitas superiores a seis mil milhões de euros e empregando cerca de oito por cento da população activa portuguesa.

O turismo, apesar de não ser a panaceia para resolver os problemas de desenvolvimento de algumas zonas do nosso país, pode constituir um motor de desenvolvimento de muitas delas. Permite dinamizar as actividades económicas tradicionais e valorizar as especificidades culturais locais, proporcionando emprego e evitando o êxodo rural que muitos dos concelhos do interior têm sentido.

Contudo, para além do possível potencial turístico que uma região possa ter, importa antes de mais saber o que os turistas querem, procuram e desejam e a forma como o mercado está a evoluir. Que alterações tecnológicas, políticas, sociais, económicas e ambientais estão a ocorrer e que é necessário ter em conta para que as empresas, principalmente as pequenas, que operam neste sector, se possam manter concorrenciais?

Por um lado, as empresas podem esperar uma pressão cada vez maior para a qualidade do serviço. A qualidade percepcionada é um dos factores que mais contribui para a satisfação do cliente e, como tal, deverá ser tratada de uma forma adequada. A tendência será para uma crescente legislação, que garanta ao cliente os padrões de segurança, saúde e ambientais adequados. Por outro lado, as empresas que operam neste sector, necessitam cada vez mais de colaborar entre si para defender a sua posição no mercado. A concorrência crescente por parte das grandes empresas obriga a uma maior integração entre os produtores de atracções, transportes e alojamento e os organizadores de viagens. O turista espera que a sua viagem seja uma jornada contínua, onde não ocorram desencontros entre o alojamento, transporte e atracções. Por outro lado ainda, as empresas têm que dar mais importância às questões ambientais. Depois do preço e da qualidade oferecida, os consumidores tendem cada vez mais a valorizar, na sua escolha, o esforço ambiental da empresa. Este é um facto já hoje indiscutível e que algumas empresas constataram, tendo passado a utilizar produtos recicláveis.

A nível social, também alguns desafios se apresentam, nomeadamente, o facto de as expectativas dos clientes estarem a mudar. Os turistas são hoje mais informados e exigentes, procurando ofertas mais individualizadas para satisfazer as suas necessidades de diferenciação. Também o facto de o turismo privilegiar o factor humano na prestação do serviço exige às empresas neste sector uma maior preocupação com a formação dos seus colaboradores, bem como, novos modelos de negócios.

Por último, as empresas precisam de estar conscientes de que a Internet irá tornar-se o principal canal de vendas. Até ao momento, ainda muito poucas empresas se consciencializam disto, o que indica que ainda não conseguiram antecipar o valor desta nova tecnologia como factor potenciador do sucesso do negócio. No entanto, para as pequenas empresas, isto fará sentido através do agrupamento e colaboração com outras. Só com cooperação se poderá apostar na construção de um portal de reservas integrado, onde o turista possa encontrar não só informação sobre a empresa A ou B, mas também de todas as outras que poderão complementar a oferta turística existente numa determinada região.

Helena Alves *

* Universidade da Beira Interior, Departamento de Gestão e Economia.

In Diário XXI de 11/04/2006

Sem comentários: