Carreiras e marketing: Puro bom senso

Apresento-vos hoje um texto que recuperei nas memórias da revista "Marketing & Publicidade". Reflectindo a experiência de vida de Mafalda Araújo, licenciada em farmácia e a fazer carreira no marketing, este texto pode ajudar todos aqueles que, finalizada a licenciatura em marketing (ou noutro curso qualquer) enfrentam pela primeira vez o mercado de trabalho cheios de dúvidas, anseios e receios.
Não o considerem uma receita, mas aproveitem os ingredientes para confeccionarem o vosso próprio "petisco".

Uma vez, durante uma das primeiras entrevistas de selecção em que par­ticipei, foi-me perguntado o que era o marketing. Depois de ouvir a minha definição mais ou menos Kotler, o entrevistador deu-me a sua versão: "Marketing é puro bom senso". Depois de trabalhar vários anos em marketing subscrevo inteiramente a definição, e adiciono apenas, umas "pitadas" de técnica e de arte. Para mim, uma carreira e marketing parti­lham esta definição, mas é um dos poucos as­pectos comuns entre ambos.

Pretender que uma carreira depende de um plano de marketing realizado ao sair da uni­versidade e da nossa própria vontade, confor­me definida num momento específico da vida, não me parece corresponder à realidade. Uma carreira é individual, parte das afinidades, das experiências de vida de cada um e, por isso mesmo, é dinâmica. Há evidentemente algo de planeamento e pre­paração, sobretudo numa fase inicial durante a qual se investe num curso, se escolhe a área de futura actuação, se reflecte sobre o tipo de vida que se pretende ter.

No entanto há muito mais de "timing" (estar no local certo, no momento certo, com a re­ceptividade certa), de ter capacidade para identificar oportunidades, de ter coragem para assumir desafios e riscos, e também de sorte...

Num tema tão pessoal, dar conselhos seria de mau gosto, pejo que apenas vou partilhar o que, no meu caso e até hoje, teve maior im­pacto. O elemento mais determinante, que provocou a maior inflexão num percurso que se podia prever linear, foi a decisão de fazer um MBA no INSEAD, em França. Este curso preencheu todas as expectativas: completou a formação anterior demasiado técnica (farmá­cia), abriu perspectivas de actuação em dife­rentes áreas de gestão, foi extremamente enriquecedor a nível cultural e humano e propor­cionou amizades "gJobe-trotting" que perma­necem.

A segunda maior decisão foi a de trabalhar fora de Portugal após o MBA, porque reco­nheço agora que a experiência internacional tem um enorme valor acrescentado. Não me refiro a experiências de um ano durante o qual se está quase em estágio numa empresa e à primeira dor de dentes se voa para Lisboa mas em épocas mais prolongadas (quando já se tem um dentista local) adquire-se mais ra­pidamente uma certa abertura e flexibilidade pela simples realização de que existem formas diferentes de funcionar. Apenas uma reco­mendação: não convém menosprezar o cho­que cultural no regresso, que pode ser violento. Em terceiro lugar, a escolha das empresas e das pessoas é fundamental para ambas as partes sob pena da vida em comum ser curta.

Uma vez mais só posso referir critérios muito pessoais: projectos que constituíam desafios, empresas e produtos que me atraíram, cultu­ras empresariais que me pareceram compatí­veis com a minha visão e forma de pensar. Passei assim por empresas excelentes, vários países, vários mercados, várias funções, ten­tando sempre dar o melhor, contribuir, apren­der e evoluir.

Não mudaria uma única etapa. Por último, tive o privilégio de trabalhar com pessoas com as quais aprendi muitíssimo, e a sorte de encontrar óptimos profissionais, colegas, subordinados, superiores, amigos, clientes, fornecedores e "inimigos" que me ajuda­ram, desafiaram as minhas capacidades e obrigaram a progredir. Sem os seus estímulos constantes a vida não teria sido a mesma...

Investir, tomar decisões, assumir desafios, contribuir para um projecto e uma empresa, dar o nosso melhor e, sobretudo, gostar do que se faz.

Puro bom senso! "

Boas Férias a todos os BiMarketers