sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"O Marketing morreu, Viva o Marketing!

“Quão inconsciente será a decisão de consumo? Esta questão colocas novos desafios, em especial para os publicitários, já que o mundo em que vivemos é, em larga medida, resultado da construção inconsciente que dele temos, tendo-se tornado, nos últimos anos, o desejo pelo consumo o mais complexo paradigma do comportamento humano”
por Paulo Vieira de Castro, Consultor de Empresas e Director do Centro de Estudos Aplicados em Marketing do Instituto Superior de Administração e Gestão

“Acreditar no que as neurociências afirmam, em especial na importância do inconsciente sobre as decisões do ser humano, os clássicos métodos de estudo de mercado poderão estar em parte comprometidos. Enquanto ferramenta de análise, as tradicionais técnicas de inquérito apresentam algumas limitações, em especial no que toca ao entendimento comunicacional, isto porque os limites das técnicas clássicas de análise de mercado se prendem com o facto da linguagem se desenvolver a partir de si mesma, ou seja, aquilo que se fala funciona muitas vezes ao revés do que se pensa. Nesta perspectiva, o neuromarketing poderá ganhar um novo ânimo. Resta, contudo, a dúvida: quão inconsciente será a decisão de consumo? Tal revela novos desafios, em especial para os publicitários, já que o mundo em que vivemos é - em grande medida – resultado da construção inconsciente que dele temos, tendo-se tornado - nos últimos anos – o desejo pelo consumo o mais complexo paradigma do comportamento humano.


Assim, dúvidas se levantam aos analistas de marketing, face à possibilidade de respostas aos questionários não serem sinceras. De igual modo, durante as sessões de grupo, existe a probabilidade de um, ou mais, de entre os entrevistados, influenciarem a restante amostra. Será a este nível que o neuromarketing poderá desempenhar um importante papel complementar e provatório das técnicas tradicionais de estudo de mercado. Repito: complementar e nunca substituto. Talvez o ser humano não tenha nascido para consumir, no entanto, será interessante estudar a possibilidade de existir no Homem um impulso natural (vital) de poder, que o empurre em direcção ao consumo, isto como uma forma manifesta da mais moderna disputa de poder, fundamentada – agora – através da compra.



Quem comanda o Cérebro?
Impõe-se a reflexão a propósito da possibilidade da origem das necessidades e dos desejos humanos estarem para além, e por que não dizê-lo, aquém, da mera excitação visível no cérebro humano. Schopenhauer veio afirmando que o Homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer, obrigando deste modo à reflexão a propósito das circunstâncias que se afiguraram para além da simples condição físico-química do cérebro. Tal constatação realça a urgência de um novo universo de possibilidades para o marketing.


Pierre Buser fala-nos das mil faces do inconsciente, afirmando que o cérebro funciona no modo involuntário. Ainda que de uma forma superficial, o neuromarketing revelou um mundo demasiado complexo, trazendo de volta a necessidade de uma abordagem mais íntima às questões relacionais, ante a constante tensão entre impulsos eléctricos cerebrais, necessidades e desejo humanos. Estas circunstâncias, ao se afigurarem como não exclusivas da área comportamental, radicam-se, necessariamente, ao nível das mais subtis competências, ou seja, para além da simples condição físico-química do ser humano, levantando a questão do impulso originário/ancestral por detrás de toda a motivação humana. Ora, se imaginarmos um Homem que é mais do que fluxo sanguíneo, ou impulsos eléctricos, o neuromarketing apresenta-se como uma ferramenta falha, não de atributos ou argumentos, mas de completude. Pessoalmente continuo a partilhar das mais elevadas expectativas no que ao neuromarketing diz respeito, contudo, vejo novos desafios e limitações, mais do que novas certezas." (adaptado)

Fonte: Revista Marketeer (edição de Janeiro)

Publicada por Joana Leal nº 24996

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