terça-feira, 9 de abril de 2013

[505.] Vodafone - RED




Há quanto tempo não víamos uma campanha publicitária construída em torno do vermelho? Seis meses? Cinco semanas? Quatro dias? Três segundos? A Vodafone cobriu os jornais portugueses de vermelho no dia 7 de Março. As capas e contracapas e as primeiras páginas interiores vestiram-se de vermelho — aliás, vestiram-se de "red" — e de grandes anúncios ao novo preçário de serviços da empresa. O vermelho, cor da paixão, do sangue, do amor (e também da Vodafone) voltou também aos mupis e ecrãs para estimular emoções nos observadores. Nós, que trabalhamos nos jornais e para os jornais, rendemo-nos à campanha: tomara que mais empresas se empenhassem em dar vida à imprensa escrita com iniciativas publicitárias como esta. Como sempre, a publicidade procura seduzir pela emoções: um dos anúncios televisivos da Vodafone é uma sucessão de abraços felizes, portugueses, no aeroporto da Portela, em casa, onde calha. O outro é uma sucessão de situações pessoais felizes, quase todas como se fossem filmadas pelos próprios e divulgadas nas redes sociais (não há nos anúncios uma única situação de trabalho, essa maçada). No ecrã, passam várias frases, mas três resumem a campanha. Uma diz "RED é feliz", o que não quer dizer nada e quer dizer tudo. Nada significa, pois RED é um pacote de serviços e os pacotes de serviços não têm emoções. Todavia, a campanha utiliza a emoção porque as emoções são uma porta de acesso à razão e à acção humanas. Como a emoção não chega, as outras frases-chave da campanha cativam pelo lado racional, apesar de também elas estarem embrulhadas num ambiente emocional: "RED é tudo junto", "RED é todas as coisas boas". Deixando de lado trabalho, comida, cama e roupa lavada, a campanha transforma as formas de comunicação (telefone, Internet, televisão) nas alegrias que elas proporcionam (esqueçamos as tristezas que recebemos pelo telefone, pela Internet e pela TV) e faz dessas alegrias "tudo" e "todas as coisas". Entre parêntesis, note-se que campanhas como esta promovem a ideia e a realidade de que no mundo comunicacional nada tem verdadeira existência para além da comunicação; só ela traz alegria, só ela junta as pessoas: os abraços mostrados são felizes porque foram filmados e gravados, o bebé a crescer, as brincadeiras com os amigos, "tudo" parece apenas ganhar sentido por se filmar e divulgar. As "coisas" só existem, só se tornam "boas" quando são comunicadas electronicamente. Naturalmente, há uma incongruência a que não se pretende que se chegue: a comunicação através de aparelhos electrónicos anula (pois não substitui) o verdadeiro abraço físico, com contacto corpo a corpo, como os que se vêem no anúncio. Mas, como todos sabemos, é melhor o contacto electrónico do que nenhum, pelo que a transformação do "todos juntos" electronicamente pelo "todos juntos" ao vivo não passa de um exagero próprio da publicidade. Fechado o parêntesis, a campanha consegue uma grande solidez porque as imagens e as mensagens que as acompanham se referem ao mesmo tempo à oferta comercial ("todas as coisas boas", isto é, vários serviços por um preço) e à oferta ideológica (esses serviços permitem ao cliente partilhar todas as suas "coisas boas" pessoais, familiares e de amigos). Deste modo, a Vodafone aparece como um facilitador de emoções dos clientes, ao permitir-lhes aceder e partilhar "coisas boas": eis porque um dos anúncios televisivos é formado por planos de 15 abraços de pessoas comuns a outras pessoas comuns (e a uma árvore e um peluche): a comunicação facilita que se esteja "junto", conforme esta e tantas outras campanhas de operadores de telecomunicações não param de nos dizer. A campanha cumpre outro pilar da mensagem publicitária. RED responde a uma necessidade que o consumidor desconhecia ter: você precisa de partilhar, comunicar, assistir a TV, "tudo" ao máximo, e a Vodafone permite-lhe fazê-lo "sem preocupações".


21 Março 2013, 00:01 por Eduardo Cintra Torres | ect@netcabo.pt ect@netcabo.pt
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